O que sobrou do nosso amor

    

 

 

 

 

     Acho que é isso, é esse meu destino.

     Sentar em cadeiras velhas de bares escuros, pedir a cerveja mais barata da casa e passar a noite inteira bebendo e olhando para o nada.

     O Nada é um lugar interessante.

     Lá você ainda é meu, ainda estamos cursando a faculdade, eu ainda escrevo meus romances, você acabou de ser aceito na empresa dos seus sonhos e nós acabamos de nos mudar para um apartamentozinho no canto direito da cidade. No Nada a gente ainda planeja ter dois filhos e um cachorro, nosso carro continua sendo um passat e nós dormimos juntos todas as noites. Não existem brigas, não existem mentiras, os maus momentos... No Nada você nunca me decepcionou, nem eu fugi.

Lá você sempre me busca na saída do trabalho nas tardes de sexta-feira e me leva para a faculdade. Depois vamos nos bares próximos e passamos a noite rindo de como a moça no karaokê canta mal e como o bêbado do outro lado do bar parece um bulldog velho.

     Mas no Aqui & Agora você não está comigo, o cheiro do seu perfume já está se esvaindo do travesseiro, suas roupas não estão mais espalhadas pelo chão da casa, seu violão não está mais no canto da sala e seus braços não estão mais em minha cintura. Só restaram as mágoas, a cama vazia, a cozinha solitária, a panela de brigadeiro pela metade, o balde de pipoca jogado no chão. Só me restou o bar, o karaokê, a cerveja e as nossas memórias.

 

 

 

* Texto feito em parceria com Maisa Gois, do blog homônimo.