quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O dono do beijo

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        Enquanto nos beijávamos sob a luz negra, uma idéia impertinente corria pela minha cabeça, e se faltou coragem, vontade não me faltou de dizer para ele, Seu beijo está estranho, até porque naquela altura da noite ele provavelmente me diria que eu não estava em condições de achar alguém estranho, mas eu e meu coração sabíamos que eu estava bem o suficiente para saber que aquela era a última vez que os lábios dele e os meus se encontrariam.
         Drástico sim, porém verdadeiro.
       Não era o mesmo beijo pelo qual me apaixonei, não tinha o mesmo gosto, cheiro, fluxo, rotação, saliva, vibe, emoção, tesão, enfim... Não tinha nada. Era apenas um músculo se mexendo dentro da minha boca e me fazendo ter vontade de cuspir e gritar "ECA!".
       E sabe o que é o mais curioso disso tudo? Dois meses atrás não tinha nada nesse planeta que me deixasse mais arrepiada e nas nuvens do que esse dito beijo. Eu dormia sonhando com ele, acordava sonhando com ele e só parava de sonhar quando finalmente o sonho virava realidade. Só que de uns tempos pra cá o dono do beijo foi ficando chato, estressante, foi ficando parecido com a novela das seis: um tédio, e não há pessoa nesse mundo que possa se sentir atraída pelo tédio, não é mesmo? Fui deixando de gostar dele... A primeira coisa da qual enjoei foram das conversas telefônicas, eram sempre os mesmos assuntos, mesmos diálogos, mesmas indagações, mesma voz... Quando eu via o nome "Dono do beijo" no visor, me dava vontade de matar o cara que inventou celular, e então passei a deixá-lo no modo silencioso e a usar a antiga e genuína desculpa "Eu não escutei tocar!" (nem haveria como, graças à Deus). Depois o que me deixava exausta eram as conversas na internet, um mimimi sem fim, frases copiadas de algum site de auto ajuda e muita baboseira para completar, sem contar que graças à exposição que a internet oferece pude ver que eu não era a única a receber certos elogios, o que me fez constatar que eu não devia ser a única a receber certas ligações, e provavelmente não era a única a achar tudo aquilo um saco. Percebi que a coisa toda estava indo por água a baixo quando fomos ao cinema na semana passada e até mesmo o tiozinho da pipoca conseguia ser mais interessante que ele. O papo chato do telefone e da internet se materializavam na minha frente de forma desesperadora, juntamente com uma cara de quem sorri apenas para agradar os outros. Um sorriso sincero era pedir demais? Para ele, sim. Mas mesmo em meio a tantas turbulências, quando ele me beijava eu ainda sentia minhas pernas formigarem e meu corpo amolecer, não tinha nada melhor no mundo do que aquele beijo, e sentir tudo aquilo era tão bom que fazia toda a chatice que o antecedia valer a pena. Mas como tudo que é supérfluo, o beijo acabou por perder a graça também, e naquela noite, naquela festa, sob a luz negra, eu pude ver mais claro do que em toda minha vida que ele não era mais o príncipe da minha história. Na verdade eu percebi que príncipe mesmo ele nunca foi, e que na minha história foi apenas mais um capítulo, nada tão especial quanto parecia. O dono do beijo no fim das contas não era dono de nada, não era dono do próprio nariz, do meu coração, das suas idéias, e para minha surpresa, nem dono do beijo, porquê se fosse, o encanto jamais teria acabado. Ele era dono apenas de um vazio sem fim, sem mim... Dono de lugar nenhum. 

2 comentários:

  1. Respostas
    1. Sim, maioria dos textos são meus, mas quando são de outros autores eu coloco os respectivos nomes, como no caso da Tag Minhas Amélias.

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