terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Heloísa e Pedro

    
 
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    Ela arrumou a mala. Não tinha muitas roupas lá, metade do tempo eles passavam. Ele ficou olhando sem fazer nada, sentado na cama com um lençol velho cobrindo o corpo nu que ele nem pensava em vestir, afinal, tinha coisas mais importantes pra pensar,  “O que fazer pra ela parar de drama?!”, “E se ela for mesmo?! O que eu devo fazer?” ou talvez até “Ah, vou tomar coca pra curar essa ressaca!”
     Ela pegava suas coisas, indignada – Ele não vai fazer nada? Vai ficar me olhando com essa cara de sono, e vai me deixar ir?! – Não podia acreditar no que aconteceu! Ela confiou nele, deu uma segunda chance PELA VIGÉSIMA vez, e ele? Jogou a chance pela janela. Talvez ela também jogue pela janela,  mas vai jogar as roupas dele, pra ele não ter o que vestir.
     Calçou o seu all star preto envelhecido, colocou um boné azul escuro (presente dele) e falou, com nós na garganta:
- Olha, eu to indo embora, e não pense que eu vou voltar, é o fim da linha pra você, faça bom proveito dessa sua vida sem sentido, e fique bem longe de mim PELO RESTO DA SUA VIDA!!
      Saiu, e enquanto descia as escadas do prédio chorou como nunca havia chorado antes. Aposto que chorou mais ali do que quando era criança e sentia medo ou coisas do gênero…
      A alma dela já não agüentava mais, estava pesada, suja… Ele só a poluía, mas ela achava que ele era do tipo “reciclável”, que tem jeito ainda. Mas ele não tem jeito.
      Depois que ela bateu a porta com toda a força, amor e ódio que tinha em seu coração, parece que ele acordou e percebeu a realidade da situação.
      Levantou correndo, vestiu a primeira calça que encontrou, colocou uma camiseta branca com desenhos que diziam “Make Love, not war” que eles pintaram juntos, e… – QUE GOSTO DE VÔMITO! – foi no banheiro pra escovar os dentes. Imbecil.
      Enquanto isso, do lado de fora da casa, em um ponto de ônibus, ela ia perdendo as esperanças.
      - Ele não vai vir? Ele não vai me implorar desculpas de joelho na frente de todos, chorar e dizer que vai mudar? Espero que não, eu o perdoaria…
      Ela tinha deixado em cada degrau da escada um pedaço de seu coração partido, impossível recuperá-los. Por que as pessoas que mais amamos são as que mais nos decepcionam? Por que confiamos tanto nessas porcarias de homens? E porque eles não podem ser sinceros?
      - Helô!!! Helô!!!
      Era ele. Ele estava gritando do penúltimo degrau, mas o ônibus já estava parando.
      - Helô não vai, espera! Eu posso explicar… – ela o olhou brava -  Não, eu não posso explixar, mas eu posso me desculpar? Espera por favor!
      - Esperar pra quê? Pra você me contar mais uma  das sua mentiras de sempre, eu acreditar feito uma idiota, e você vacilar de novo?? Não, não quero mais isso pra mim.
      - Eu juro por Deus, por tudo desse mundo, que eu nunca mais vou te magoar!
      - Não coloque o nome de Deus no meio dessa sua mentira! Além de tudo, você ainda se esforça pra ir pro inferno né? Eu já disse duas bilhões de vezes, e digo duas bilhões e uma: Não!
      - Meu, não vou conseguir ficar sem você! Quem mais vai fazer um exemplos tão loucos? Quem vai me acordar tocando músicas no violão? Quem vai jogar sucrilho na minha cara de manhã só pra ver se eu dou risada!? Ninguém, a não ser você! Eu não posso te deixar ir!
      - O problema Pedro, é que não depende de vc me deixar ir, eu não estou te pedindo, eu vou, fiquei tempo demais, e você não soube o que fazer, não acho que seria agora que você aprenderia!
     - Você vai mesmo?
     - Vou!
     - Você sabe que, se você entrar nesse ônbus, a gente nunca mais fica juntos né? Seus pais não vão te deixar voltar!
     - Eu sei, e não me importo!
     É Lógico que ela se importa!!!! Ela está se matando dizendo essas coisas, mas sente que tem que dizer. No fundo, ela quer ficar, mas não está seguindo as batidas do seu coração, O CERTO É IR PELO LADO DA RAZÃO.
    - Me dá pelo menos um abraço de tchau então...
    - O ônbus já vai sair Pedro, tchau.
    - Por favor Helô, um ultimo abraço!
   Ela pensou uma, duas vezes, e disse - Vem  logo!
   Ele abriu aquele sorriso que ninguém mais tem, criou um brilho nos olhos, e foi chegando mais perto. Ela trêmula, sem saber o que fazer com as mãos, não sabia se ria, se chorava, se ficava ali, parada, esperando o tempo passar, ou desejando que o tempo parasse. Ele a abraçou, naquele momento, eles choraram… ELES SE AMAM! Mas ele ama de um jeito que a Helô considera errado! Mas, é o jeito dele… Talvez eles não tenham sido feitos um para o outro… Ou talvez, seja aquela coisa de “OS OPOSTOS SE ATRAEM”, bom, não sei…
   Eles se abraçaram, ele arriscou um beijo, mas o máximo que aconteceu foi um selinho.
   Ela subiu no ônibus, foi até uma janela, olhou pra fora, e falou:
   - Pedro, eu sei que nunca vou te esquecer, mas, se eu não for embora, posso acabar te odiando! Não quero odiar a pessoa que me faz olhar para as estrelas e ver um brilho diferente… Você foi a melhor coisa que já aconteceu na minha vida! Um dia a gente se esbarra…
   E o ônibus foi embora. O Pedro entrou no apartamento, chorando, deitou, dormiu, e sonhou que ela voltava. Só sonho.
   A Heloisa nunca mais voltou para a cidade, ficou morando com os pais, fez faculdade, e hoje é uma psicóloga respeitada e reconhecida. Casou, ainda não tem filhos, mas quando tiver, e se for menino, todos da família já sabem: Se chamará Pedro (Apenas os pais dela sabem o motivo). Heloisa lembra de Pedro todas as noites antes de dormir. Lembra com carinho, com saudades… Todos os dias, para sempre.
   Pedro morou no mesmo apartamento por seis anos. Mas assim que entrou uma grana boa, ele saiu de lá. As lembranças de Heloisa o enlouqueciam.
   Ela esqueceu o seu violão lá aquele dia, ele aprendeu a tocá-lo, e agora faz shows em barzinhos da cidade. Sempre toca a mesma música por último, e diz que é para a pessoa que o ajudou a estar ali. A música é “Aonde quer que eu vá” dos Paralamas do sucesso.
   Ele carrega a imagem da Heloisa até hoje, na memória e na carteira, uma foto deles dois tomando sorvete numa antiga pracinha. Que tempo bom... Uma pena que não vai voltar... A triste certeza.  
   Eles nunca mais se viram e talvez nunca mais se vejam.  Mas eles não precisam  estar perto para estarem juntos. O pensamento, o amor, e tudo o que é impossível explicar com palavras os une diariamente.


Nathália Sousa, 08/jul/2008
(Texto escrito quando eu tinha 15 aninhos e era uma guria doida, hahah, sempre gostei muito desse texto porque um tempo depois disso a minha história se tornou muito parecida com a da Helô.)

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