Enquanto o amor não vem

   

      


        Dia desses abri um velho livro de anotações da minha mãe, cheio de pensamentos e romantismo, e enquanto lia aquelas frases lindas comecei a perguntar inconscientemente para o universo: Por que não eu? Me explica Hebert, por quê ele não olha pra mim? Me diz, o que é que eu tenho de mau? O que é que eu não tenho de bom? Será que eu pareço louca demais? Bom, eu bebo sim, grito no meio da rua, acordo às cinco da manhã com vontade de escrever e sempre fico rindo à toa depois do almoço, mas eu sou uma pessoa boa, sou contra sacolas plásticas, não como carne na semana santa, lavo minhas próprias roupas... E tudo bem, não sou dona de um rostinho de boneca,  não sei jogar truco e quando faço arroz ele fica empapado, mas são defeitos possíveis de relevar. Não sei o motivo de nunca ser eu. Tenho tanto carinho pra compartilhar, tanta vontade de abraçar alguém e poder dizer "Eu esperei a vida inteira por isso", mas toda vez que eu penso que encontrei o tal pelo qual valeu a pena esperar, sou surpreendida por evidências mostrando que vou ter que esperar mais, que  ainda não é a minha hora de acalmar esse coração cansado de sofrer. Mas quando vai ser?

     Toda vez que vejo o sol se pôr eu peço pra ele, "Quando você voltar, trás um amor pra mim?", mas acho que quanto mais a gente espera, mais ele demora a chegar. O segredo é não querer, é não estar procurando, o amor gosta de gente despercebida. Aí então quando você menos esperar, na fila do super mercado ou da farmácia, ele aparece, pergunta seu nome e te olha como se já tivesse te visto antes. Claro que viu, nos sonhos, nos devaneios em que tanto projetava a pessoa que o faria feliz. Você também o viu, desejou que ele existisse cada vez que seu coração foi partido, e finalmente ele está ali, parado na sua frente. Será que é ele, sol?