sábado, 15 de setembro de 2012

Natureza-morta

 
 
 
     
      Eu estou assistindo TV e você não para de rabiscar nesse seu caderno velho de desenhos, detalhando cada parte de mim, desde meu olho esquerdo maior que o direito até o rasgo do shorts indicando a velhice do mesmo, e eu só desejando que você me conhecesse tão bem na vida como conhece no papel; desejando que os meus detalhes emocionais não te escapassem, assim como os físicos; desejando que você pudesse me enxergar além dos seus papéis e que pudesse colorir a minha alma... Mas você é artista demais pra isso. Artista demais pra se importar, pra fazer cena de ciúmes, pra correr atrás, pra comprar um bolo na padaria e dizer que é pra comemorar nosso aniversário de namoro. Você é artista demais pra amar alguém que não esteja nas suas pinturas.

      Tenho vontade de beber suas tintas pra ver se você se interessaria pelo meu interior, pelos meus desejos; vontade de quebrar seus lápis pra ver se você larga deles e finalmente pega na minha mão enquanto eu assisto a essa porcaria de filme mudo em preto e branco que me faz lembrar a vida que levo com você: sem música, sem cor, sem graça, sem emoção... Logo você, que tem o dom de misturar as cores mais lindas e harmoniosas, de pintar pessoas e paisagens, de arrancar suspiros com suas obras, não conseguiu colorir nossa vida, não desenhou ao menos uma flor para me dar... Me pintou diversas vezes, mas nunca me enxergou.




Um comentário:

  1. Passei pela vida para aprender a sofrer em silêncio, pois a dor é sempre uma sentença direcionada para o coração, que fica dentro do peito, escondido, batendo para somente o seu dono escutar....

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