quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Teenage dream

     Eu sonhava com ele, todo santo dia, em casa às vezes, mas principalmente na escola, que era quando eu o via, tão lindo, tão perfeito, com aquele sorriso e aquele jeito de me olhar e passar sem dar ao menos oi... Ele era sem dúvidas o mais lindo da escola, mesmo estando ainda no primeiro ano do colegial. Os outros caras mais velhos podiam até ser bonitos, mas eram muito óbvios, pele clara, bonés, roupas estranhas, calças coladas, todos como um jogo de xícaras velhas. Já ele, com um bronzeado de dar inveja na globeleza e sempre tão simples, conseguiu ser único... Conseguiu tomar a minha atenção por completo.
     Era o fim do mundo quando eu via que a minha presença não o afetava. Passava maquiagem, horas calculando o traço do delineador, escolhendo o perfume mais doce, trocando a calça jeans (já que o uniforme eu não podia né!), o sapato... Eu ia o mais linda possível, esperando pelo menos um sorrisinho, ou que, nos meus devaneios mais loucos, ele sentasse comigo nos banquinhos brancos, com dois do meu chocolate favorito, e conversasse comigo sobre qualquer assunto, e terminasse a conversa pedindo meu telefone, mas não, ele vezenunca me olhava, e mesmo assim, passava como quem tem coisa melhor pra fazer.
     Meio que me acostumei em tê-lo apenas como alguém que eu desejava, e apenas vê-lo já era bom, não precisava que ele me visse. Porque as coisas mais impossíveis são as que mais me encantam? Nunca entendi, mas querer o impossível fazia sentido quando ele sorria, mesmo que não fosse para mim.
     Inevitavelmente, o ano foi chegando ao fim, sem que tivéssemos nenhum contato, nada que nos aproximasse além de poucos amigos em comum. Eu não o veria mais com tanta frequência, e mesmo que todo aquele sentimento estivesse mais cadenciado, eu ficava nervosa toda vez que ele saia de sua sala para o intervalo. Começaram as férias, me despedi de mais da metade da escola, menos dele, resolvi deixar toda essa história para trás, junto com as memórias do Colegial. Vida nova, novos pensamentos, novos garotos para me apaixonar...





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     Minha vida mudou bastante no ano seguinte, comecei a fazer alguns cursos, sair mais, conheci muita gente nova e vi que não conhecia muita gente velha, aprendi coisas em meses que não esperava aprender em anos, e fiquei feliz por isso. É uma divisão de águas quando saímos da escola, onde tudo é festa e com pouca responsabilidade, e vamos para o mundo real onde é preciso trabalhar e correr atrás do que queremos. Minhas idéias e ideais mudaram muito, vi o mundo com outros olhos, como quem podia ver através de paredes criadas e impostas pela sociedade e pelas pessoas em volta, que não querem enxergar as verdades e belezas do mundo, mas eu quis, e eu enxerguei. O que me espantou nisso tudo foi perceber a força de um sentimento, como ele pode ser silencioso e duradouro, mesmo não sendo amor. Depois de tantas mudanças na minha vida, não pensei que meu coração continuasse sentindo as mesmas coisas, mas descobri em uma noite inusitada, que ele ainda era o mesmo de sete meses atrás.
Eu estava no trabalho sem grandes expectativas para o dia, talvez alugar um filme e passar a noite em casa ou sair para a casa de alguma amiga, quando de repente... trrriiiiiiiiiiiinnnnnnn... O telefone tocou, e quem era? Uma das minhas amigas, me chamando para uma festa que ia rolar naquele noite. Como não tinha nada para fazer, resolvi ir, qualquer coisa era melhor do que ficar em casa.
     Chegamos lá por volta das onze horas, a festa estava cheia, muita gente desconhecida, muita menina que bebeu água e ficou bêbada, muito cara querendo impressionar, mas eu só queria achar alguma bebida forte. Fiquei nessa de beber e dançar com minha amiga, incrível como me sinto bem fazendo isso... Música boa, bebida boa e alguém firmeza do lado, sempre faz a noite valer a pena. Mas de repente, como nos velhos tempos de colégio, alguém moreno e simples passou por mim exalando um perfume maravilhoso, mas como de costume, nem me olhou. Meu objetivo naquela noite estava traçado: deixar pra trás todos os velhos sonhos que envolviam ele e transformá-los em realidade. Como sempre, o acaso me ajudou, e a certa altura da noite quando eu não tinha mais certeza se meu celular e documentos ainda estavam no bolso e nem se as pessoas estavam flutuando de verdade, ele sentou ao lado de onde eu estava. Lindo, fofo, um brotinho... Não pensei duas vezes e arrastei a minha matéria até onde estava a matéria dele (a alma e o juízo chegaram um pouco depois). Eu disse apenas "Oi" e sorri com olhos de cigana oblíqua e dissimulada (que somente o alcool me proporciona) e não precisei fazer mais nada, ele entendeu perfeitamente o recado. Sabia meu nome, sabia que eu tinha concluído a escola, onde eu morava, quem era meu ex-namorado (nem só de boas referências vive o homem, infelizmente) e ficou surpreso por saber que eu também sabia muitas coisas sobre ele. Nos beijamos. Não lembro como o beijo começou e nem como terminou, mas sei que eu achei muito bom, e que ele pediu o meu telefone no final de tudo. E claro que eu passei, né? Bom, na verdade não. Eu não passei nada, disse todo meu número mas troquei o último digito, e querem saber o motivo? Eu consegui o que eu queria, fiquei com ele, abracei, senti o cheiro... Ou seja, acabou a graça. Mas naquela mesma noite saindo da festa eu vi um cara tããão lindo, nossa, acho que estou me apaixonando...

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