Ele nem imagina, mas um abraço teria mudado tudo. Se ele tivesse segurado minha mão com uma das mãos e com a outra segurado meu rosto não teria outro lugar do mundo para o qual eu iria além da casa dele, pelo resto da minha vida. Mas ele cruzou os braços, ele deu sinal pro ônibus que me tirou da vida dele parar, e eu subi, mesmo sem malas, sem dinheiro pra passagem... Fui com a cara e coragem para uma viagem sem volta rumo ao esquecimento.

   Mas esse caminho pelo qual estou passando é pior do que tudo nessa vida. São tantas placas me indicando direções controversas que me encontro aqui, nessa encruzilhada onde havia um papel e um lápis e eu decidi escrever, pois caso eu não sobreviva quero que todos saibam o porque: morri de amor. 

Pode imaginar como é isso? Não? Eu explico então. Nos primeiros meses faltam ar, fome, auto estima, assunto, sorrisos... Nos primeiros meses faltam tudo, e um buraco negro engole seu coração, pulmão, visceras e tudo que existe dentro de você, e parece que a morte se aproxima e você dorme apenas aguardando o sono eterno. Mas ai você acorda e parece que um reggae te deixou feliz, e você levanta da cama como se superar um amor fosse facil como descascar uma banana, e segue sua vida feliz. Essa fase pode durar de meses a anos, você até chega a pensar que de fato é feliz e vai dormir achando que a vida é boa, mas então quando você acorda o ceu está cinza e tem um espelho quebrado na sua frente, e você sente que todos seus órgãos se foram novamente mas que o vazio de antes cresceu e agora você não é nada além de vazio, e no meu caso não me restou nada além dessas palavras.

   Quem me vê por ai nem imagina como é respirar sem ter ar, pulsar sem ter sangue, ter olhos mas ver apenas uma imagem que mesmo estando na memória já está amarelada e com cheiro de mofo... Onde está seu cheiro?

O ônibus foi embora, mas eu não esperava que ele ficasse. O que permanece nessa vida além das cicatrizes? Nada, ou quase nada... Além de cicatrizes que voce deixou o que permaneceu foi eu... Eu sem você, ou seja, quase nada...