segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Verde Oliva

    
Subway

    Eu o vejo todos os dias.
    Maioria das vezes de blusa verde oliva, sempre usando fones de ouvido. Cabelo bagunçado caindo sobre os olhos, aneis em alguns dedos, diferentes livros a cada semana. Ele sempre senta com o pé esquerdo apoiado no joelho direito e provavelmente me acharia uma psicopata por analisar como que alguém consegue, todo santo dia, ouvir músicas, ler e continuar fazendo cara de quem não tem nada passando pela cabeça cada vez que o metrô sentido Jabaquara passa e ele se prepara pra entrar. 
    Não consigo evitar, grande parte das minhas viagens trabalho-cursinho se resumem a imaginar quem é esse rapaz tão comum mas que chamou tanto minha atenção. Na verdade, eu tenho essas coisas sabe? De apaixonar por alguém que dei preferência na lombada, ficar pensando no caixa da padaria de uma cidade que fui à passeio, ou até mesmo imaginar encontros com o cara da blusa verde oliva do metro. 
    Pensei durante bastante tempo que isso acontecia por conta de algum disturbio afetivo que fazia com que eu me apaixonasse com a mesma facilidade que um senhor tira um extrato bancário de 7 dias no caixa eletrônico. Mas infelizmente eu tenho mania de pensar demais, e analisando minha própria situação emocional achei uma justificativa um pouco mais triste do que a do disturbio. 
    Eu me apaixono a cada esquina e por pessoas que provavelmente não verei depois porque é mais fácil. Quem já se apaixonou pelo melhor amigo ou pelo vizinho sabe bem do que eu estou falando. É bem mais gostoso inventar as histórias que eu quiser e ter motivos para lhes escrever do que viver um amor que provavelmente vai me magoar como tantos outros já fizeram. O cara da faixa de pedestres seguiu a vida dele e nem imagina que eu pensei que o nome dele podia ser Paulo e que nós fomos ao cinema assistir a estréia de Harry Potter e o Calice de fogo, mesmo que ele não goste muito dessas coisas. E esses caras são importantes, porque quando minhas amigas estão contando seus loucos casos de amor eu sempre tenho um novo amor pra contar. 
    Triste, covarde, eu sei. Nem sempre fui assim. Houve uma época, anos e anos atrás, em que eu era corajosa como nenhuma outra pessoa, me apaixonava pelo melhor amigo e pelo vizinho, mas quando o relacionamento não era conturbado eles estavam namorando outra pessoa, então as minhas experiencias com o amor sempre foram tristes, até que eu me apaixonei por quem não conheço e posso dar nome e sobrenome, e a pessoa me acha linda mesmo sem nunca ter me visto de fato, e eu os amo e gosto das ligações no meio da noite que provavelmente eles fariam dizendo que não era nada de importante, só saudade de ouvir minha voz as três e cinquenta e sete da manhã numa quinta feira. Eu os amo porque me fazem feliz como nenhum dos outros caras que conheci foram capazes de fazer, então não me julgue pela minha utopia, tenho sido feliz assim, e não é apenas isso que importa, a felicidade? Pois bem, sou feliz. 

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