segunda-feira, 25 de julho de 2016

O amor é paciente

O amor é paciente.
O amor é paciente está na UTI. Ele é paciente e utiliza o sistema Público de Saúde e está na UTI e ninguém vai visita-lo.
O amor é paciente e está a base de medicações fortíssimas para não acordar e não sentir dor. Ele respira com ajuda de aparelhos.
O amor é paciente e espera. Espera por melhora, espera um jarro com flores na beirada da cama, mas tudo o que tem lá é uma prancheta com seus dados e deixando bem claro que a situação é crítica.
O amor é paciente! Ele é paciente e só estão esperando a hora de desligar deus aparelhos. Ninguém se preocupa mais com o amor. Ninguém quer visita-lo, ninguém procurou saber do seu paradeiro. Além de paciente, o amor é indigente.
Não tem família, não tem pai nem mãe nem filho nem sequer um cachorro, o amor não tem mais nada.
O amor é paciente e hoje cedo a médica falou que precisa desse leito pra alguém que está numa situação pior mas com possibilidade de melhoras.
O amor não tem mais jeito.
O amor é paciente e está tomando um litro de soro com uma medicação que não sei dizer ao certo o que é mas ele está ficando pálido e fraco.
O amor é paciente e seu coração parou de bater. A enfermeira checou seus sinais vitais e fez sua última anotação naquela prancheta : o amor foi a óbito as 22:46 de uma noite fria de sexta feira. O motivo? Falência múltipla de órgãos.
O amor já não é mais paciente. O amor é estatística. Mais um sentimento bom que morreu. Mais uma vítima da sociedade, mais uma vítima da solidão.
O amor é paciente, pois mesmo morto e enterrado, ainda espera que o mundo um dia se ajeite.

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