sábado, 2 de junho de 2018

Jesus ride



Eu estava parada no meio da rua, já passava das três da manhã, e honestamente, eu não sentia medo. Já estava cansada de andar por tantos caminhos sozinha, sem comer nem beber nada, cansada de tentar me manter em segurança quando na verdade toda a situação apontava para um único fim: o desastre. Quando cheguei nessa conclusão, parei de andar. Desisti. Para onde eu estava indo afinal? Andar sem ter pra onde ir? Decidi esperar algo acontecer, e projetei o pior na minha mente. Um carro preto parou na minha frente em um certo momento e abriu a porta. Na hora não calculei se era seguro ou não, ou o que a pessoa que estava dentro daquele carro esperava que eu fizesse, afinal eu era uma mulher parada no meio de uma rua escura em uma madrugada fria. Mas eu entrei. 
Os bancos eram de couro e tinha cheiro de carro novo, o som estava ligado tocando o instrumental de alguma musica que eu conhecia, e a pessoa sentada ao volante tinha seu rosto encoberto parte pela escuridão da noite, parte por um chapéu, a única coisa possível de constatar era que se tratava de um homem. Mas por algum motivo doido, mais uma vez não tive medo. Dessa vez foi um medo diferente, pois enquanto eu estava na rua, não sentia medo das consequências de estar lá sozinha, mas ali dentro do carro de um desconhecido era quase como um sentimento de estar segura. 
Andamos por algumas horas sem falarmos um com o outro, eu não tinha um destino específico e não tinha vontade de perguntar ou contar nada, ele no entanto parecia saber para onde estava indo. A certa altura da viagem, abaixou o som, e começamos uma conversa. Ele me perguntou sobre diversas coisas e tive a impressão de que ele já sabia algumas respostas. Depois contou algumas histórias que me lembravam coisas que já passei,  mas ele trocou os nomes dos personagens, como se fosse pra eu ver a situação do alto e entender melhor o que se passava. 
Depois fez uma pergunta que poucas pessoas fazem, ou quando fazem não esperam a resposta verdadeira. Na verdade nem eu mesma me perguntava isso há um bom tempo, talvez desde que abandonei a inocência da infância... ele perguntou o que eu queria da vida, qual meu sonho, qual eu achava que era o proposito da minha vida, o que eu achava que havia nascido para fazer. Eu não soube responder. Afinal, eu estava de carona com um estranho sem expectativas do que viria a seguir. Eu praticamente tinha desistido da vida, como eu saberia o que esperar dela? 

E então ele me olhou bem no fundo dos olhos. Meu coração gelou e minhas bochechas esquentaram. Mas não era medo ou vergonha, era algo bom. Algo sobre aqueles olhos tão ternos e familiares... Quando Ele me olhou, pareceu entender e aceitar o fato de que eu não sabia o significado da vida, mas ali parada olhando para Ele era como se de repente eu entendesse alguma coisa mais profunda; mais profunda do que a vida ou a morte. Ele então parou o carro em uma rua iluminada que eu já conhecia, me abraçou e não precisou dizer uma só palavra, eu caí em prantos recolhida naquele abraço que parecia de pai e mãe e avó tudo misturado. E eu chorei por horas porque eu tinha tanta coisa que precisava sair do meu peito, eu chorei até não haver mais lágrimas e o rio de angústias presas dentro de mim desaguou nEle. E então Ele voltou a falar. Ele se apresentou à mim. Eu sabia, pensei. Sabia que conhecia aquela música de algum lugar, sabia que aquele olhar também significava algo maior. Eu sabia, pensei de novo, que Ele me encontraria mais uma vez. Sabia que mesmo eu havendo sido tão ingrata e deixado Ele para trás sem nem ao menos tentar me explicar, que Ele me perdoaria. Eu sabia, mas não entendi desde o começo porque eu mesma não havia me perdoado. Mas Ele olhou para o mais profundo da minha alma e me amou e perdoou antes de eu pedir perdão, antes de eu sequer pensar que estava arrependida. Quem é capaz de amar tanto assim? Quem mais me resgataria naquela escuridão e solidão ? Apenas o maior amor do mundo seria capaz disso, e ainda bem que eu aceitei embarcar nessa estrada rumo à uma nova vida... porque depois de encarar aqueles olhos e sentir aquele amor, não tem como viver como antes. E eu pude entender o meu propósito de estar viva e algo pelo qual vale a pena viver (e morrer): Ele! Agora eu penso que gostaria de ter pegado essa carona há muitos anos, mas talvez eu não estivesse pronta pra viagem. Enfim, Ele sabe de todas as coisas. 
E se você ainda não entendeu, eu não peguei carona com um estranho, eu peguei carona com Jesus. 


(Esse texto foi inspirado num fato quase real, meu pai pegou uma carona com um homem chamado Jesus, e eu achei isso incrível.) 

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